26/01/2023
Um estudo internacional feito pela consultoria alemã Roland Berger mostrou que o Brasil pode se tornar o maior produtor de hidrogênio verde do mundo e alcançar uma receita anual de R$ 150 bilhões a partir de 2050, dos quais R$ 100 bilhões serão provenientes das exportações.
O país reúne as condições ideais para produzir em escala a energia que faltava para pavimentar a transição para uma economia de baixo carbono, como ampla oferta de energias renováveis, custo marginal baixo e potencial de produção muito além do que o mercado interno pode absorver. E para alcançar as metas globais de descarbonização, o consumo de hidrogênio terá de aumentar seis vezes nos próximos 30 anos, especialmente em usos industriais e mobilidade.
O partner head de Energia da consultoria Roland Berger Brasil e um dos autores do estudo “Oportunidade de hidrogênio verde no Brasil”, Jorge Pereira da Costa, explica que essa demanda deve colocar o Brasil como protagonista no contexto de transição energética.
Ele afirma que o hidrogênio verde é apontado como uma grande commodity tornando-se o petróleo do futuro. Terá um papel fundamental no desenvolvimento econômico global, pois será empregado na mobilidade de veículos, aeronaves, propulsão para embarcações navais, geração de eletricidade e aquecimento das casas, edifícios, caminhões, trens, ônibus, entre outras aplicações.
“O mercado internacional de hidrogênio verde é um mercado emergente a nível global, mas que começa a ser estruturado pela definição de um marco regulatório também global”, diz.
A pesquisa prevê a oportunidade de o hidrogênio verde representar investimentos no Brasil da ordem de R$ 600 bilhões em 25 anos para que o país tenha capacidade de eletrolisadores necessários para a produção de hidrogênio. Neste contexto, empresas começam a acordar para o tema.
Entre os importantes anúncios, a Thyssenkrupp fechou contrato com a Unigel para fornecer tecnologia e planta de eletrólise à unidade no Polo Industrial de Camaçari (BA). A fase 1 do projeto prevê US$ 120 milhões e deve ficar pronta no final deste ano.
Em estágios menos avançados, outras companhias estudam a viabilidade de plantas nos portos de Pecém, Açu, Suape e Aratu. A AES Brasil e Fortescue assinaram pré-contrato com Complexo de Pecém. Na mesma rota foram Comerc, Casa dos Ventos e TotalEnergies.
Entretanto, foi o Chile que saiu na frente na América Latina com o projeto da Siemens Energy com a Porsche para a produção de combustíveis sintéticos e neutros em carbono utilizando o hidrogênio feito a partir de energia eólica.
A guerra na Ucrânia está acelerando a diversificação de fontes energéticas na Europa e o leilão de hidrogênio que a Alemanha pode destravar mais aportes. A EDP inaugurou a primeira planta-piloto operacional do Brasil e quer participar do certame; já a White Martins produziu o primeiro hidrogênio verde (H2V) certificado da América do Sul, em Pernambuco.
O desafio é dar escala e viabilidade econômica. Para ganhar vantagem nos mercados globais, o hidrogênio no país terá de cair o custo para US$ 2 o quilo até 2025. Os players são competitivos em geração renovável, mas os custos de transmissão e distribuição precisam cair. Costa aponta ainda que o apoio estatal em políticas de isenções de governos e encargos setoriais será um pilar fundamental.
“O Brasil tem que criar condições para a redução dos riscos dos projetos de investimento no país, nomeadamente regular o mercado interno, taxar com as emissões de carbono, particularmente das indústrias mais consumidoras de hidrogênio e/ou conceder incentivos financeiros, fiscais ou outros para reduzir os preços de produção e apoiar os agentes produtores instalados no país na participação de certames internacionais de compra de hidrogênio verde e/ou de produtos verdes utilizados para o seu transporte”.
Por ser uma indústria nascente, o pesquisador diz que o mercado de hidrogênio verde é um emergente a nível global, mas que começa a ser estruturado pela definição de um marco regulatório também global. “O Brasil precisa continuar ativo na definição desse marco regulatório, particularmente quanto aos mecanismos e critérios de certificação”, finaliza.
Fonte: Valor Econômico