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Mundo está ávido por açúcar do Brasil; entenda efeitos nos portos pela escassez global do produto

07/11/2023

Mundo está ávido por açúcar do Brasil; entenda efeitos nos portos pela escassez global do produto

O mundo precisa mais do que nunca do açúcar do Brasil para ajudar a aliviar a escassez global. Mas com o congestionamento nos principais portos, o país não consegue enviar os embarques rápido o suficiente.

Mais de uma década depois dos gargalos nos portos que puxaram uma alta do açúcar, a logística volta a ficar sobrecarregada. Aproximadamente 70 navios aguardam há cerca de 20 dias para carregar mais de 3 milhões de toneladas de açúcar brasileiro, informou a agência marítima SA Commodities. Isso equivale a um mês de exportações.

Para piorar a situação, um fogo no Porto de Paranaguá fechou um terminal e impactou as operações em outra instalação. E tudo isto acontece no momento em que a seca na região Amazônica desvia carregamentos de grãos dos portos do Norte, aumentando a concorrência com o açúcar no Sudeste.

"É a primeira vez em anos que o Brasil testa sua capacidade logística máxima", disse Ricardo Carvalho, diretor comercial da BP Bunge Bioenergia.

As safras gigantes de soja e milho coincidiram com uma produção de açúcar que deve atingir novo recorde este ano. Embora a produção maior deveria, em tese, ajudar a aliviar a escassez global de açúcar que já puxou os preços para o nível mais elevado desde 2011, uma repetição dos gargalos da última década deixa o mundo subabastecido.

Safras fracas e ameaças de restrições às exportações na Índia e na Tailândia já colocaram os futuros de açúcar bruto em Nova York a caminho de um quinto ano consecutivo de alta, a sequência mais longa desde 1989. Os estoques globais devem cair para o nível mais baixo em 13 anos, e o mundo está novamente contando com o Brasil para atender à demanda crescente.

"A dependência que o mundo está criando do açúcar brasileiro é assustadora", disse Mauro Angelo, CEO da Alvean, maior trading de açúcar do mundo, em entrevista em São Paulo na semana passada. A empresa é controlada pela brasileira Copersucar.

Para muitos operadores de açúcar, parece que estamos no início da década de 2010 novamente, quando o Brasil enfrentou graves gargalos, seguidos por um fogo no Porto de Santos que atrapalhou os carregamentos. A concorrência com as exportações de grãos também foi forte na época, e só diminuiu quando vários projetos logísticos no norte do país começaram a operar.

Mas agora o futuro é incerto. Com juros altos e custos de construção crescentes, o alívio para os mercados de açúcar só poderá vir com um novo terminal em Santos. A Cofco Internacional deve começar a operar a instalação em 2025, disse Marcelo de Andrade, diretor-gerente de commodities agrícolas da unidade comercial da maior empresa de alimentos da China.

"O mundo precisa de açúcar. O Brasil tem açúcar, mas não pode exportar, então os preços têm que subir", disse Andrade em São Paulo na semana passada. "Quanto tempo vai durar a festa? Até o terminal da Cofco começar."

Mas mesmo assim, a pressão só diminuiria por cerca de dois a três anos, antes que a produção agrícola total do país cresça novamente para um nível que sobrecarregue a capacidade, disse Angelo, da Alvean.

Por enquanto, a logística apertada colocou os mercados de açúcar em estado de alerta.

O Brasil começará a colher a nova safra de soja ainda este ano, e muitos terminais que agora transportam açúcar passarão para a oleaginosa no próximo ano. Outros passarão por manutenção anual.

Muitos já enfrentam fortes chuvas, que impedem os terminais de carregar açúcar, sob risco de estragar o produto.

"A atual safra recorde de açúcar está testando os limites da logística portuária apertada, especialmente em Santos", disse Thierry Songeur, gerente geral da trading francesa Sucres et Denrées. "O mercado está vulnerável às notícias meteorológicas, e eventuais chuvas fortes e duradouras que provavelmente desencadearão um movimento de alta."

O incêndio de sábado em uma esteira transportadora que atende o Terminal CAP em Paranaguá aumentou a pressão sobre um mercado já tenso. Embora se espere que a instalação vizinha da Bunge retorne às operações normais esta semana ou no início da próxima, no mais tardar, não está claro por quanto tempo o da CAP ficará offline.

Os terminais armazenavam principalmente grãos, que os terminais e operadores ferroviários normalmente preferem devido à maior lucratividade. Isso provavelmente significa que a concorrência para embarcar aumentará em outros portos.

Impasses nos portos já forçaram os usineiros a serem criativos e buscar armazéns terceirizados para armazenar açúcar. A Água Bonita foi uma das usinas que alugou espaço extra.

"É um problema com certeza", disse o diretor-gerente Flavio Ribeiro. "Mesmo que ter muita produção para vender seja o tipo de problema que gostamos de ter."

A seca na Amazônia faz com que cerca de 1 milhão de toneladas de grãos que normalmente viajariam em barcaças pela região sejam direcionados para portos do Sudeste, segundo Carvalho, da BP Bunge. Embora os níveis de água tenham melhorado após atingir mínimas históricos, a logística do açúcar deve continuar sob pressão.
Fonte: Bloomberg