03/09/2024
Um recente estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis, vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), indica que as mudanças climáticas poderão acarretar uma redução de até 20% na produção brasileira de cana-de-açúcar nos próximos dez anos. Essa previsão traz sérias preocupações, uma vez que o impacto se estenderia ao mercado de açúcar e de etanol e ao setor de biocombustíveis, no qual o Brasil é líder mundial.
De acordo com a pesquisa, a redução na produção de cana deve-se principalmente à diminuição da frequência e intensidade das chuvas, fator que tem se mostrado ainda mais prejudicial ao cultivo do que o aumento das temperaturas. Essa conclusão foi alcançada por meio de técnicas avançadas de modelagem agroclimática, que utilizaram dados históricos e simulações para prever o futuro da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil.
O estudo abrange seis estados—São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul—que juntos são responsáveis por 90% da produção de cana-de-açúcar do país. Utilizando dados climáticos fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e aplicando o modelo Crop Assessment Tool, desenvolvido pelo CNPEM, os pesquisadores estimaram os impactos potenciais das mudanças climáticas na produtividade da cana.
Os resultados já se fazem sentir. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma redução de 3,8% na safra de 2024/25, atribuída aos baixos índices de chuva e às temperaturas elevadas na região. Gabriel Petrielli, engenheiro agrícola e principal participante do estudo, alerta que essa queda na produção pode gerar uma perda significativa nas receitas do setor.
“A redução na produtividade da cana-de-açúcar pode levar a uma diminuição de US$ 1,9 milhão em CBIOs para cada bilhão de litros de etanol produzido, resultando em uma perda anual de cerca de US$ 60 milhões para o setor”, destacou.
Além das mudanças climáticas, as queimadas recentes em São Paulo intensificaram os prejuízos, afetando não apenas a cana-de-açúcar, mas também outros setores agropecuários, como a pecuária, fruticultura, heveicultura e apicultura. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do estado estima que os prejuízos ultrapassam R$ 1 bilhão.
Em resposta à crise, a Defesa Civil do estado manteve diversas áreas em alerta para queimadas, mesmo com a chegada de frentes frias e chuvas na Região Sudeste. A SAA também disponibilizou R$ 110 milhões em créditos para os produtores rurais paulistas afetados pelo fogo, por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP).
Diante desse cenário crítico, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) está elaborando uma linha de crédito específica para o replantio da cana-de-açúcar, especialmente em áreas severamente impactadas, como o estado de São Paulo. O ministro Carlos Fávaro anunciou que o Plano Safra será remanejado para incluir essa nova linha de crédito, visando minimizar as perdas e preparar o setor para a próxima safra, além disso, o Mapa está avaliando outras medidas para apoiar a reconstrução das áreas afetadas.
O Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, continua a liderar as exportações globais do setor sucroalcooleiro. Somente neste ano, as exportações de açúcar bruto atingiram um recorde histórico, superando U$ 8,69 bilhões. Contudo, os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelos eventos climáticos extremos exigem ações urgentes e coordenadas para assegurar a sustentabilidade do setor no longo prazo.
Fonte: Andréia Vital/Jornal Cana - Foto: Reprodução Jornal Cana