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ARTIGO: Melchiades Terciotti destaca os benefícios da indústria de biofertilizantes na Enersugar

24/10/2024

ARTIGO: Melchiades Terciotti destaca os benefícios da indústria de biofertilizantes na Enersugar

Melchiades Terciotti, CEO da Enersugar, escreveu artigo para o Portal NovaCana destacando as perspectivas do projeto de implantação de uma indústrias de biofertilizantes dentro do parque industrial da usina em Ibirarema. O texto que foi ao ar nesta semana destaca a inciativa que conta com a parceria da Agrion Fertilizantes e da NovaAmérica para a produção de adubo organomineral a partir da torta de filtro e de outros resíduos resultantes da fabricação de açúcar e etanol. Os compostos orgânicos substituem o adubo químico com custo menor e com mais rendimento nas lavouras. Confira abaixo:

 

 

 


"[Opinião] Uma resposta biológica para a dependência dos fertilizantes importados

 

Por Melchíades Terciotti*

 

A invasão da Ucrânia por tropas russas em fevereiro de 2022 obrigou o Brasil a não mais ignorar o verdadeiro “elefante na sala”, que é a forte dependência do agronegócio nacional por insumos e fertilizantes importados. Segundo o Ministério da Agricultura, o país importa cerca de 85% dos fertilizantes que utiliza, e algo como 25% do que é importado vem da Rússia. Disto resulta uma situação de vulnerabilidade para o Brasil, um dos principais produtores agrícolas do planeta.

 

As hostilidades entre Rússia e Ucrânia aconteciam desde 2014, o que deveria ter sido um sinal de alerta. Só no ano em que as ameaças finalmente viraram guerra, agora em seu terceiro ano, surgiu uma importante medida concreta com a criação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNA). É um passo na direção certa, mas os resultados dessa iniciativa devem acontecer a longo prazo: a meta é a redução da importação de fertilizantes, dos atuais 85% para 45%, até 2050.

 

Para agilizar o combate a esse quadro preocupante de dependência externa, nem todas as soluções precisam vir exclusivamente do poder público, ou apenas da busca por fertilizantes convencionais. É fundamental buscar alternativas, pois a tendência é de aumento das dificuldades caso o Brasil, maior importador de fertilizantes do mundo em 2022, permaneça dependente.

 

Além de guerras e conflitos geopolíticos que podem afetar o fornecimento, temos uma longa lista que inclui chuvas fora de estação, estiagens prolongadas, câmbio desfavorável, fretes marítimos em alta acentuada, preços das commodities oscilando para baixo, barreiras comerciais e oferta instável de insumos essenciais para a nutrição do solo.

 

Turbulências, sejam de caráter socioeconômico ou ambiental, também podem fazer surgir novas oportunidades para alavancar a produtividade no Brasil, que depende, fundamentalmente, de duas pedras angulares: ciência e sustentabilidade.

 

Um dos caminhos é a substituição de fertilizantes fósseis pelos de origem renovável, como a fabricação doméstica do adubo organomineral. É um caminho viável a partir de elementos cruciais ao desenvolvimento da cana-de-açúcar: fósforo, nitrogênio, potássio e cálcio, presentes em abundância na vinhaça e na torta de filtro, assim como futuramente no biogás proveniente dos processos industriais de produção de açúcar e etanol.

 

Como exemplo do que é possível nesse contexto, temos uma parceria inédita formada na iniciativa privada, mesmo sem políticas públicas ideais para garantir maior previsibilidade para investimentos e segurança jurídica. Para aproveitar o imenso potencial dos canaviais, o projeto une a NovaAmérica Agrícola, uma das maiores produtoras de cana do país; a Agrion Fertilizantes; e a usina Enersugar, sediada em Ibirarema (SP).

 

Com início da produção programado para o segundo semestre de 2025 e investimento de R$ 30 milhões, será instalada anexa à usina uma fábrica de bioinsumos, que vai reduzir a aplicação de adubo químico, a custo menor e com mais rendimento. A produção inicial está estimada em 60 mil toneladas anuais de biofertilizantes, com possibilidade de dobrar a capacidade posteriormente.

 

Pensando na descarbonização principalmente dos fertilizantes hidrogenados, outro projeto está surgindo em Minas Gerais, onde a empresa Atlas vai produzir fertilizantes nitrogenados verdes a partir de 2028, com zero emissão de carbono, utilizando somente água, ar e energia solar. Hoje, os nitrogenados fósseis utilizam gás natural e carvão, responsáveis por 2% das emissões globais de CO2 – mais até do que as emissões da aviação comercial.

 

Não resta dúvida sobre as vantagens ambientais e econômicas de uma matriz agronômica mais limpa. Estudo recente produzido conjuntamente por Ministério da Agricultura (Mapa); Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA); Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI); e Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, dimensiona os benefícios da implementação gradativa de fontes alternativas. O levantamento mostra que o Brasil pode economizar US$ 5,1 bilhões anuais com a adoção de bioinsumos em pastagens e lavouras como milho, trigo, cana e arroz.

 

Outros estudos apontam que a substituição parcial de fertilizantes nitrogenados por bioinsumos contribui para o aumento da eficiência no uso de nutrientes e para a mitigação dos efeitos climáticos. O potencial estimado de redução de emissões de CO2 equivalente com o uso de insumos biológicos é de 18,5 milhões de toneladas por ano.

 

Ganhos de produtividade com baixas emissões na agricultura brasileira também envolvem instituições científicas voltadas para a pesquisa e desenvolvimento de sementes sintéticas de cana. É o caso do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que tem trabalhos mostrando que esse caminho proporciona crescimento vegetativo mais rápido dos canaviais, reduzindo custos de manutenção do plantio, sem falar nos impactos positivos para o meio ambiente.

 

Iniciativas como estas demonstram a resiliência do produtor rural no Brasil e de sua capacidade de construir um futuro cada vez mais sustentável. No setor da cana-de-açúcar não faltam exemplos de iniciativas inovadoras e comprometidas com uma agricultura 4.0, produtiva e socioambientalmente justa. Fora da busca por novas alternativas, temos a realidade: dados do Comex mostram que o Brasil importou mais de 27 milhões de toneladas de fertilizantes nos primeiros oito meses deste ano, um novo recorde para esse período.

* Melchíades Terciotti é CEO da Enersugar"

Fonte: NovaCana