28/10/2022
Responsáveis pelo atraso na moagem de cana no ciclo atual (2022/23), as chuvas que estão caindo com mais intensidade no Centro-Sul desde julho também estão favorecendo o crescimento da matéria-prima que será processada na próxima temporada, e podem fazer a região colher um volume próximo do observado três ou quatro safras atrás.
As primeiras indicações para 2023/24, que começará em abril, são de que o CentroSul poderá processar entre 570 milhões e 590 milhões de toneladas de cana, segundo projeção da Datagro apresentada ontem em evento promovido pela consultoria em São Paulo.
A trading Cofco International, por sua vez, estima uma moagem em faixa muito semelhante, de 575 milhões a 595 milhões de toneladas. Já a consultoria Pecege projetou recentemente uma recuperação menor, para cerca de 560 milhões de toneladas.
Esses números indicam um crescimento na produção de cana entre 3% e 9%. Para a safra atual, Datagro e Pecege estimam que a moagem ficará em 542 milhões de toneladas, enquanto a Cofco vê 550 milhões de toneladas.
Qualquer que seja a intensidade de recuperação da próxima safra, será ditada pela produtividade. Já a área da cana no Centro-Sul deverá continuar recuando. Para a Datagro, a região tende a perder 1,8% da extensão de cultivo, principalmente para lavouras de grãos.
A área de colheita de cana no Centro-Sul começou a cair oito safras atrás, em 2015/16. Desde então, a área de colheita só aumentou duas vezes. Nesse período, as lavouras de cana da região já perderam 10% da área, ou 766 mil hectares até esta safra, de acordo com os últimos dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).
Essa retração começou com a crise detonada no segmento sucroalcooleiro em 2015/16, com os baixos preços dos combustíveis. Nos últimos anos, é a concorrência com a soja que vem pressionando as plantações de cana, o que deve se repetir no próximo ciclo.
A pressão da soja deverá aumentar porque o grão está dando lucro aos produtores, o que a cana não está mais oferecendo. A diferença entre ganhos e custos com o cultivo de cana está hoje negativo em 9,1%, enquanto a soja está oferecendo uma margem líquida positiva de 7,8%, segundo a Datagro.
O prejuízo com a cana está sendo determinado pela queda dos preços do etanol, que compõem a remuneração ao produtor, enquanto os custos de produção agrícolas seguem elevados. Segundo a consultoria, o custo para produzir cana no Centro-Sul está em R$ 183,70 por tonelada.
A produção canavieira dependerá, portanto, da manutenção do bom volume de chuvas que vem ocorrendo nos últimos meses. Até o momento, porém, as precipitações estão atrasando o avanço da safra. Segundo a Datagro, já são 16,6 dias de colheita interrompida pelas chuvas.
Com isso, mais unidades continuam em operação. Até 16 de outubro, havia 272 usinas processando cana, 38 a mais que um ano antes. Com mais usinas ativas, o volume de cana moído na primeira metade deste mês superou o de um ano atrás em 40% e totalizou 27,7 milhões de toneladas, de acordo com dados de ontem da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Com mais matéria-prima moída, as usinas aumentaram a produção de açúcar em 59% e a de etanol em 10% na primeira quinzena.
Desde o início da safra, porém, a moagem da safra ainda está abaixo do ritmo de 2021/22, com atraso de 2,2 milhões de toneladas na produção de açúcar e de 1,2 bilhão de litros na produção de etanol.
A fabricação de açúcar está sendo reforçada pelo mix mais açucareiro nos últimos meses, e que no acumulado da safra já está em 45,67%, maior do que no ciclo passado. A produção de etanol, por sua vez, está sendo reforçada pelo processamento do milho, que já representa 9,8% nesta safra.
Fonte: AGÊNCIA UDOP